CRESCER DÓI!

Crescer, eis uma palavra que usamos bastante e definimos como sendo bom. Você tem crescer — no sentido de progredir — nos estudos, na profissão, nos relacionamentos e em tantas outras atividades que desempenha. Entretanto, são poucos os que enxergam esse ‘crescer’ como doloroso e não tão benéfico assim.
Quando adolescentes, estamos saindo do estágio de criança e entrando no universo jovem. Daí, começa o choque: o crescimento me proporcionará coisas novas e me fará deixar outras que não são próprias dessa etapa da vida. É como deixar de usar uma roupa que não dá mais em mim, para usar uma apropriada. Deixamos a candidez de lado e começamos a experimentar a lucidez de ver a realidade, como antes não fora possível. E olhe que não experimentamos na adolescência, o real completamente. Isso porque ainda somos um pouco cândidos nessa etapa.
Mas aí vem o ser jovem, apenas um passo antes da vida adulta. Bem, é nessa fase que o choque aumenta e a inocência parece não existir mais. Muitas responsabilidades, alguns divertimentos e cobranças redobradas. Ficamos apreensivos quanto ao futuro e aos rumos que iremos tomar. As pessoas esperam mais de nós. Aqui, o crescimento é almejado, mas não como antes.
Crescer dói! Ele nos tira a candidez que nos poupava de ver o mundo imperfeito, leva embora o tempo livre — para brincarmos sem que alguém nos condenasse por isso — e ainda nos traz o sentimento da frustração e da impotência, antes desconhecido, frente à uma realidade que foge a nossa vontade.
O crescer é algo doído, mas, também, nos revela muitas sensações boas. Entre elas, a alegria de sentir-se útil e a possibilidade de descobrirmos coisas novas. O crescimento nos leva à caminhos desconhecidos, caminhos que foram sonhados enquanto éramos criança e adolescente.
Portanto, crescer faz parte da vida e é bom, mas não tão bom quanto imaginamos — tanto que, quando adultos, queremos voltar à vida de crianças. Não posso dizer que não valia a pena crescer, porque vale. Mas, nesse processo, perde-se muito de nós. Claro que também ganhamos, mas a nossa essência mesmo está antes do crescer.
Mudaram as estações e nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente, diz Renato Russo na música ‘por enquanto’ (que ficou muito conhecida na voz de Cássia Eller). Ele traduz um sentimento que, acredito eu, todos tenham: o crescer nos mudou, mas a nossa essência está na infância. Parece insistente dizer isso novamente, mas é para ser enfático mesmo. Quão bom seria se fôssemos adultos com espírito de criança (digo sabendo que existem muitos, assim, pelo mundo)...


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