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Quando falamos de fidelidade, logo nos vem à mente um compromisso
com amigos, cônjuge, namorado, religião, trabalho, etc. Poucos são os que
empregam esta palavra para designar um vínculo com algum valor que faça parte
de nossa identidade e, que logo, vai reverberar nos nossos relacionamentos
humanos. Não paramos para pensar que temos de ser fiéis, em primeiro lugar, com
nós mesmos para que sejamos leais também com os que nos cercam. Quando não
conseguimos sequer ser verdadeiros com nós mesmos, as chances de nos mantermos
íntegros com os outros diminui consideravelmente. Eu disse diminui, não falei
que é impossível.
“Fiz questão de esquecer que mentir pra si mesmo é
sempre a pior mentira”, diz o poeta Renato Russo, na canção Quase sem querer.
Se pararmos para pensar, grande parte das pessoas vivem esse trecho da canção.
Nós simplesmente acabamos mentindo para nós com medo do nosso próprio eu,
fugindo de nossas imperfeições ou de alguns sentimentos. Escondemo-nos!
Sufocamos, principalmente, os sentimentos que acabam passando para os outros a
ideia de fraqueza. Afinal, só os fortes sobrevivem, dizemo-nos. Negamos que
temos qualquer problema, que precisamos de ajuda, etc.
Veja o que diz o filósofo existencialista Jean-PaulSartre:
“Sem dúvida, definimos a mentira ideal, e sem
dúvida comumente o mentiroso é mais ou menos vítima de sua mentira, ficando
meio persuadido por ela: mas essas formas correntes e vulgares da mentira
são também adulteradas, intermediárias entre mentira e má-fé. A mentira é
conduta de transcendência. [...] Pela mentira, a consciência afirma existir por
natureza como oculta ao outro, utiliza em proveito próprio a dualidade
ontológica do eu e do eu do outro. Não pode dar-se o mesmo no caso da má-fé, se
esta, como dissemos, é mentir a si mesmo. Por certo, para quem pratica a má-fé,
trata-se de mascarar uma verdade desagradável ou apresentar como verdade um
erro agradável. A má-fé tem na aparência, portanto, a estrutura da mentira. Só
que - e isso muda tudo - na má-fé eu mesmo escondo a verdade de mim mesmo.
Assim, não existe neste caso a dualidade do enganador e do enganado. A má-fé
implica por essência, ao contrário, a unidade de uma consciência.”
(“Má-Fé e Mentira.” In:
O Ser e o Nada - Ensaio de Ontologia Fenomenológica, por Jean-Paul SARTRE,
tradução: Paulo Perdigão, 92-101. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.)
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Ser fiel consigo mesmo é um grande passo para o
crescimento porque você terá consciência de suas limitações, bem como de
suas virtudes. Uma vez que você se reconhece como é e o que sente, poderá então
tomar decisões mais acertadas. É como deixar de andar com os olhos vendados:
você está vendo para onde está caminhando e escolherá qual a melhor direção a
ser seguida. Além disso, não sentirá mais aquele remorso de quem está fazendo
algo errado (que se sente quando fazemos alguma coisa querendo outra). Ser leal
com você mesmo não vai te tornar perfeito nem te dará uma vida sem dores, mas a
sensação de conhecer-se e não se negar vai trazer mais felicidade do que mentir
para si mesmo.
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